
Publicado originalmente na coluna Eddy is Dead do site Gore Boulevard
Depois
de ter sido expulso por má conduta pela equipe daquele judeu maldito do
Facebook resolvi me manifestar sobre o modo de vida dos falsos
moralistas que infectam o mundo com suas mentiras e máscaras de bem
estar escrevendo uma coluna sobre como a sociedade é semelhante à um
chiqueiro e nada melhor que escrever sobre o pai do desconforto
cinematográfico, Takashi Miike,
e sua obra-prima "Visitor Q". Produzido em 2001, esta loucura japonesa
que leva a assinatura de Miike (Ichi the Killer, Audition) foi
parcialmente inspirado em "Teorema" de Pier Paolo Pasolini. "Visitor Q" (Bijitâ Q, no original)
retrata, de forma bizarra, a crise de uma família burguesa no Japão e
como a própria mascara suas feridas sociais com status elevados e boas
vestimentas.

Kiyoshi Yamazaki (Kenichi Endo)
é um jornalista que busca realizar uma reportagem sobre o crescimento
da violência e do sexo no Japão. Para "aquecer" a matéria ele toma uma
atitude um tanto extrema: começa realizando relações sexuais com sua
própria filha, que é prostituta, e filmando seu filho sendo humilhado e
agredido por colegas de escola em sessões intermináveis de bulling
escolar. Para completar este quadro de "família feliz" seu filho
desconta sua frustração espancando a mãe, que é viciada em heroína e que
se prostitui para manter o vício, que é "escondido" da família.
A
trama ultrapassa o limite do bizarro com a chegada de um estranho
visitante, o "visitante Q", que após alvejar a cabeça de Kiyoshi com uma
pedrada o leva para casa enquanto acompanha os comportamentos bizarros e
provoca mudanças no seio da família Yamazaki. Conhecido por seu também
bizarro "Audition" (1999), Miike nos apresenta uma violenta
parábola sobre a convivência cultural no Japão pós-moderno e através da
bizarrice desenfreada que o diretor expõe sem nehuma maquiagem moral
toda a crise da sociedade japonesa do século XXI tendo em foco a
desagregação íntima da familia burguesa tradicional.

O que torna os filmes de Takashi Miike
tão assustadores não são os mortos , mas sim os vivos com seus dramas
bizarros e perversões sexuais. Em "Visitor Q" você pode esperar de tudo:
incesto, necrofilia, drogas, sexo grupal e uma cena espetacular onde a
matriarca dos Yamazaki praticamente inunda um cômodo da casa esguichando leite materno como se fosse um chafariz. (como uma mulher com peitos tão pequenos pode produzir tanto leite? Preciso fazer uma viagem ao Japão urgentemente!!!)
A critica cultural em "Visitor Q"
é tão explicita quanto as perversões sexuais que ele expõe. Logo na
cena de abertura em que Kyoshi começa a fazer sexo com sua filha, ela
pergunta: "O que você sabe dos adolescentes de hoje em dia? ". E ele
responde incisivamente: "Eles se dizem o futuro do Japão. Um futuro sem
esperanças!"
Se
no "Teorema" de Pasolini regredir ao estado primal era como sentir-se
nu e desesperado no deserto, para Miike a regressão talvez seja
recolocar seus personagens em um estágio tão primal quanto animalesco, e
que talvez seja a única chance de redenção para este seu circo
familiar. Com o estigma da violência e da degradação o "visitante Q"
estabiliza a normalidade familiar exatamente como os médicos presenteiam
a vida aos recém-nascidos com um tapaço no rabo! Pai e filhos sugam nos
seios de uma mãe curada de cicatrizes e vícios que a sociedade lhes
impunham enquanto todas as feridas (físicas e psicológicas) desaparecem
por completo. A união familiar prevalece como se voltasse ao estágio
fetal, onde a repressão social lhes era desconhecida e a única ordem a
ser obedecida era a de viver bem entre os seus.

Ficha técnica
Título: Visitor Q (Bijitâ Q, no original)
País: Japão.
Ano: 2001.
Direção: Takashi Miike.
Elenco: Kenichi Endo, Shungiku Uchida, Kazushi Watanabe, Shôko Nakahara,Fujiko, Jun Mutô.
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