Como estou em meio à uma crise
de meia-idade resolvi escrever sobre este obscuro filme alemão de 2006
que conta a história de um exótico bordel onde os homens pagam para
dormir - literalmente – com lindas jovens nuas. O único problema é que
elas premanecem dopadas num sono sem fim...
Edmond (intrepretado por Vadim Glowna, que também escreveu e dirigiu o filme)
é um viúvo sessentão que ainda se encontra muito abatido com a morte de
sua esposa e filha em um acidente de carro há 15 anos. Ele se arrasta
pelas ruas de Berlim o tempo todo a reviver alguns momentos inquietantes
com sua falecida esposa arrastando consigo a tristeza de sua morte
inevitável. Um dia, seu amigo Kogi (Maximillian Schell) conta sobre o
bordel. Apesar de se maravilhar com o recinto Edmond fica encucado pelo
fato de que a maioria dos clientes neste bordel são idosos, felizes em
cobiçar e acariciar as belezas jovens. Outra particularidade bizarra do
bordel é que os clientes são proibidos de terem sexo com as meninas. As
anfitriãs são fortemente sedadas para satisfazerem a tara dos tiozinhos,
e pela manhã a Madame (Angela Winkler) “revive-as” com outra injeção, após os clientes deixarem o local.

O filme é baseado em um romance de Yasunari Kawabata,
e talvez a vaidade das belas adormecidas funciona melhor no livro do
que no filme, que tem o problema de tentar ser uma representação
literal. Entre algumas falhas técnicas estão os fatos de nunca
explicarem como o cabelo das meninas e maquiagem continuam perfeitos,
não importa quanto tempo elas estiveram dormindo. E uma vez que isso é
um fetiche masculino, você pode apostar que as meninas não roncam,
babam, peidam ou falem dormindo, o que é muito comum em estados de sono
profundo. Outra curiosidade é que a história seria baseada sobre os
rumores de um bordel real que supostamente existiu em Berlim durante os
anos 1920 e 30. A premissa é certamente assustadora, e um pouco
grotesca: homens velhos atraídos para aproveitarem de jovens corpos
femininos numa tara meio voyeur que eles não poderiam realizar na sua
vida real. Para estes clientes (em sua maioria, senhores ricos) o
anonimato e a passividade da “vítima” eram parte do tesão.

Uma outra coisa que também não me sai da cabeça é o fato do filme flertar com a pratica da necrofilia (necrofilia: parafilia caracterizada pelo desejo sexual por corpos mortos), se bem que alguns puristas podem catalogar o filme como parte de um fetiche agalmatófilo (agalmatofilia: parafilia relacionada com a atração sexual por a uma estátua, boneca(o), manequim ou outro objeto similar)
o que eu descordo. Como a trama é focada na morte e na velhice, o fato
de Edmond fugir de sua incapacidade de ludibriar o sentimento de morte
utilizando o conforto de corpos inertes para descansar me soa bastante
como necrofilia...
Obstante, Edmond rapidamente se
torna obcecado com o bordel. A cada visita à sua “bela adormecida”, ele
revive o relacionamento com sua mãe, suas primeiras experiências
sexuais, a forma como as coisas estavam com sua esposa e filha antes do
acidente, e assim por diante. Ficamos a par de suas reminiscências
através de uma série de narrações (que chegam a torrar o saco de tédio!) que implicam sobre seus impulsos sexuais em face da decadência física pela idade e pela proximidade da morte.
Em suma, “House of the Sleeping Beauties”
é o tipo de filme que define a arte em oposição à propria arte. Os
créditos de produção possuem bom gosto, e às vezes o filme funciona como
um híbrido de monólogo e poema, mas também é uma espécie de thriller
sufocante que poderia ser melhorado se o sexo e a história do bordel
fossem melhor explorados do que a vida do protagonista. Um bom filme se
você (assim como eu!)
se sente como se fosse um dinossauro que estivesse prestes a pular em
um poço de alcatrão e necessitasse de algo para servir de epitáfio para
um túmulo bonito.
Título: House of the Sleeping Beauties - aka Das Haus der schlafenden Schönen
Ano: 2006
País: Alemanha
Direção: Vadim Glowna
Roteiro: Vadim Glowna, Yasunari Kawabata (novel)
Elenco: Vadim Glowna, Angela Winkler, Maximilian Schell