segunda-feira, 29 de abril de 2013

Das Haus der schlafenden Schönen - 2006

Como estou em meio à uma crise de meia-idade resolvi escrever sobre este obscuro filme alemão de 2006 que conta a história de  um exótico bordel onde os homens pagam para dormir - literalmente – com lindas jovens nuas. O único problema é que elas premanecem dopadas num sono sem fim...

Edmond (intrepretado por Vadim Glowna, que também escreveu e dirigiu o filme) é um viúvo sessentão que ainda se encontra muito abatido com a morte de sua esposa e filha em um acidente de carro há 15 anos. Ele se arrasta pelas ruas de Berlim o tempo todo a reviver alguns momentos inquietantes com sua falecida esposa  arrastando consigo a tristeza de sua morte inevitável. Um dia, seu amigo Kogi (Maximillian Schell) conta sobre o bordel. Apesar de se maravilhar com o recinto Edmond fica encucado pelo fato de que a maioria dos clientes neste bordel são idosos, felizes em cobiçar e acariciar as belezas jovens. Outra particularidade bizarra do bordel é que os clientes são proibidos de terem sexo com as meninas. As anfitriãs são fortemente sedadas para satisfazerem a tara dos tiozinhos, e pela manhã a Madame (Angela Winkler) “revive-as” com outra injeção, após os clientes deixarem o local.
O filme é baseado em um romance de Yasunari Kawabata, e talvez a vaidade das belas adormecidas funciona melhor no livro do que no filme, que tem o problema de tentar ser uma representação literal. Entre algumas falhas técnicas estão os fatos de nunca explicarem como o cabelo das meninas e maquiagem continuam perfeitos, não importa quanto tempo elas estiveram dormindo. E uma vez que isso é um fetiche masculino, você pode apostar que as meninas não roncam, babam, peidam ou falem dormindo, o que é muito comum em estados de sono profundo. Outra curiosidade é que a história seria baseada sobre os rumores de um bordel real que supostamente existiu em Berlim durante os anos 1920 e 30. A premissa é certamente assustadora, e um pouco grotesca: homens velhos atraídos para aproveitarem de jovens corpos femininos numa tara meio voyeur que eles não poderiam realizar na sua vida real. Para estes clientes (em sua maioria, senhores ricos) o anonimato e a passividade da “vítima” eram parte do tesão.
Uma outra coisa que também não me sai da cabeça é o fato do filme flertar com a pratica da necrofilia (necrofilia: parafilia caracterizada pelo desejo sexual por corpos mortos), se bem que alguns puristas podem catalogar o filme como parte de um fetiche agalmatófilo (agalmatofilia: parafilia relacionada com a atração sexual por a uma estátua, boneca(o), manequim ou outro objeto similar) o que eu descordo. Como a trama é focada na morte e na velhice, o fato de Edmond fugir de sua incapacidade de ludibriar o sentimento de morte utilizando o conforto de corpos inertes para descansar me soa bastante como necrofilia...

Obstante, Edmond rapidamente se torna obcecado com o bordel. A cada visita à sua “bela adormecida”, ele revive o relacionamento com sua mãe, suas primeiras experiências sexuais, a forma como as coisas estavam com sua esposa e filha antes do acidente, e assim por diante. Ficamos a par de suas reminiscências através de uma série de narrações (que chegam a torrar o saco de tédio!) que implicam sobre seus impulsos sexuais em face da decadência física pela idade e pela proximidade da morte.

Em suma,  “House of the Sleeping Beauties” é o tipo de filme que define a arte em oposição à propria arte. Os créditos de produção possuem bom gosto, e às vezes o filme funciona como um híbrido de monólogo e poema, mas também é uma espécie de thriller sufocante que poderia ser melhorado se o sexo e a história do bordel fossem melhor explorados do que a vida do protagonista. Um bom filme se você (assim como eu!) se sente como se fosse um dinossauro que estivesse prestes a pular em um poço de alcatrão e necessitasse de algo para servir de epitáfio para um túmulo bonito.

Título: House of the Sleeping Beauties - aka Das Haus der schlafenden Schönen
Ano: 2006
País: Alemanha
Direção: Vadim Glowna
Roteiro: Vadim Glowna, Yasunari Kawabata (novel)
Elenco: Vadim Glowna, Angela Winkler, Maximilian Schell

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